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Etarismo no mercado de trabalho: o preconceito invisível que custa caro para todos

  • Foto do escritor: Larissa Cobar
    Larissa Cobar
  • há 4 dias
  • 4 min de leitura


Você já ouviu falar em etarismo? Também conhecido como ageísmo, esse termo se refere ao preconceito com base na idade. Apesar de muitas vezes passar despercebido ou ser tratado como uma brincadeira inofensiva, o etarismo tem consequências sérias — especialmente no mercado de trabalho.


Com o aumento da expectativa de vida e o avanço da medicina, os brasileiros estão vivendo mais e com mais qualidade.


Segundo o IBGE, em 2019, a expectativa de vida no país era de 76,6 anos. Hoje, os idosos já representam quase 15% da população, e esse número deve crescer significativamente nas próximas décadas. Ainda assim, muitos profissionais com mais de 50 anos enfrentam um obstáculo invisível e persistente: o etarismo.



O que é etarismo no mercado de trabalho?

No contexto profissional, o etarismo se manifesta de diversas formas. Desde piadas sobre "não saber usar tecnologia" até a recusa explícita de contratar alguém com mais de certa idade. O preconceito pode ser sutil — como a ausência de convites para treinamentos ou a exclusão de decisões importantes — ou direto, como demissões injustificadas ou rejeição em processos seletivos apenas por causa da idade.


O etarismo atinge também os mais jovens, mas é mais acentuado entre os mais velhos. A ideia de que pessoas acima dos 50 anos são desatualizadas, inflexíveis ou incapazes de aprender novas habilidades está profundamente enraizada em muitas culturas corporativas.


As consequências do etarismo

O etarismo tem impactos reais e duradouros, tanto individuais quanto coletivos. Para os profissionais, ele compromete autoestima, reduz oportunidades de crescimento e, muitas vezes, os empurra para a informalidade ou a aposentadoria precoce. O preconceito constante pode afetar até mesmo a saúde mental, levando ao isolamento social e à depressão.


Além disso, as empresas também saem perdendo. Ignorar o potencial de profissionais experientes é desperdiçar conhecimento, maturidade emocional, resiliência e uma visão sistêmica que só os anos de experiência oferecem. Em um mercado cada vez mais volátil e exigente, essas qualidades são valiosas — e escassas.


A força da maturidade no ambiente corporativo

Um dos principais argumentos usados para justificar o etarismo é o suposto “descompasso com a tecnologia”. Mas esse estereótipo ignora a realidade: o acesso à tecnologia não está ligado à idade, e sim às oportunidades. Com treinamento adequado, qualquer profissional pode aprender e se adaptar. Mais do que isso, as pessoas maduras trazem um diferencial estratégico que vai muito além do domínio de ferramentas digitais.


A experiência acumulada ao longo de anos — inclusive em momentos de crise — permite que esses profissionais atuem como mentores, gestores mais empáticos e solucionadores de problemas. A colaboração entre gerações, aliás, é uma tendência forte em empresas inovadoras, que apostam na diversidade etária como um ativo competitivo.


Uma pessoa mais velha, com bagagem profissional rica, pode contribuir com o desenvolvimento de jovens talentos, enquanto os mais jovens oferecem apoio tecnológico. Essa troca é extremamente positiva e gera ambientes mais produtivos e saudáveis.


Desafios e oportunidades para os 50+

Apesar dos desafios, há caminhos para virar esse jogo. O primeiro passo é a conscientização: reconhecer que o etarismo existe e entender como ele opera. Profissionais acima dos 50 anos podem investir em capacitação contínua, explorar novas áreas de atuação (como consultoria, empreendedorismo ou docência) e se manter conectados às mudanças do mercado.


Ao mesmo tempo, as empresas precisam rever seus modelos de contratação e cultura interna. Criar programas específicos para inclusão etária, estimular mentorias reversas e abrir espaço para trocas intergeracionais são ações eficazes para combater o etarismo e aproveitar o melhor de cada geração.


A mudança precisa ser cultural

Romper com o etarismo é mais do que uma demanda de justiça social — é uma necessidade econômica. Em poucos anos, a maior parte da força de trabalho estará acima dos 50. Se as empresas não estiverem preparadas para essa realidade, correm o risco de perder talentos valiosos e enfrentar escassez de mão de obra qualificada.


Além disso, há um ganho inegável na pluralidade de ideias e experiências. Empresas que investem em diversidade — incluindo a etária — costumam apresentar melhores resultados, maior engajamento interno e maior capacidade de adaptação.


Como diz a modelo Rosa Saito, de 71 anos, “enquanto você estiver viva, tem que tentar ser feliz, correndo atrás daquilo que um dia teve vontade de fazer”. O mesmo vale para o trabalho: idade não é obstáculo, é bagagem. E é hora do mercado de trabalho começar a enxergar isso.


O etarismo no mercado de trabalho é um problema silencioso, mas de grande impacto. Ele priva milhões de pessoas de oportunidades justas e impede que empresas se beneficiem de talentos experientes. Combater esse preconceito exige ação dos dois lados: profissionais maduros devem buscar atualização e visibilidade; empresas, por sua vez, precisam quebrar paradigmas e abrir espaço para a diversidade etária.


Respeitar a experiência, valorizar a sabedoria e apostar na troca entre gerações é não só justo, mas também inteligente. O etarismo não pode mais ser ignorado. É hora de transformar o mercado de trabalho em um espaço verdadeiramente inclusivo — para todas as idades.

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